Esta é a 244ª edição do MARMITEX, publicado desde janeiro de 2020.
A cada duas semanas, compartilho dicas de filmes, séries, livros, artigos, fotografia, discos, podcasts e mais. Sem um tema fixo, o foco é no repertório compartilhado, transitando por uma variedade de assuntos.
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NESTA SEMANA
O hype é um fenômeno estranho. A gente ri dele, desconfia, critica — e, ainda assim, entra no jogo. Seja acreditando que o metaverso resolveria a desigualdade, apostando no próximo gadget que mudaria tudo, ou só seguindo mais um especialista promissor no LinkedIn. Hype é mais do que ruído: é um sistema emocional, econômico e narrativo que molda decisões, investimentos e até identidades.
O estudo The Anatomy of Hype parte justamente dessa ambivalência. Em vez de demonizar ou glorificar o hype, ele disseca suas camadas com relatos de quem viveu ciclos de euforia, frustração e reinvenção em setores como blockchain, real estate, moda, web3, creator economy e inovação corporativa.
Há um ponto central: hype não é só algo que nos afeta — é algo que ajudamos a construir. Somos agentes e vítimas, dependendo do contexto, da maturidade emocional e da clareza sobre o que realmente importa.
Entre os aprendizados, quatro me chamaram a atenção:
1. A dualidade do hype: ele acelera inovações e abre portas, mas também mascara fragilidades e alimenta promessas vazias.
2. O impacto emocional: euforia e burnout são lados da mesma moeda. Sem senso crítico, viramos reféns da urgência e da validação.
3. A necessidade de navegação consciente: hype é inevitável — o que muda é como a gente se posiciona diante dele.
4. O futuro do hype: se não desacelerarmos, autenticidade e criatividade viram reféns do algoritmo. Sustentabilidade (mental, criativa e de negócios) precisa entrar na equação.
Entre histórias de quem apostou demais e quebrou a cara, e quem soube transformar o hype em ferramenta de impacto real, a conclusão é clara: não se trata de evitar o hype, mas de usá-lo com consciência. Saber quando embarcar, quando esperar, e quando simplesmente dizer “não, obrigado”.
Pra quem trabalha com inovação, estratégia ou cultura, essa leitura é quase obrigatória. Porque se o hype é inevitável, melhor entender sua anatomia antes da próxima grande promessa.
📎 Leia aqui: The Anatomy of Hype
Falando em hype do bem, que provoca debates importantes, dá para não falar de “Adolescência”? A minissérie britânica da Netflix, criada por Jack Thorne e Stephen Graham, acompanha Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Filmada em plano-sequência, a produção explora temas como masculinidade tóxica, influência das redes sociais e a “machosfera” — comunidades online que propagam ideologias misóginas. A série tem gerado discussões significativas sobre os desafios enfrentados pelos jovens na era digital. Leia mais nessa matéria da BBC (PT)
💊 A geração ansiosa não são as crianças. São os pais. (PT)
Mudando um pouco o tema, no auge do hype da inovação, muita coisa foi vendida como solução mágica — frameworks, hubs, labs, parcerias performáticas. Agora, com o pêndulo voltando pro lado da eficiência, cresce o risco de descartarmos “o bebê fora com a água do banho”. E o desafio está mais na gestão do que na abordagem. A convite da MIT Sloan Review Brasil, me juntei a Bruno Stefani e Maximiliano Carlomagno pra discutir o que ainda faz sentido, o que precisa mudar e por que inovação de verdade não é palco — é gestão, estratégia e capacidade de lidar com o desconforto. Aqui está o artigo na íntegra (PT)
Quando o Brasil embarca no hype, o algoritmo se curva. Foi assim com a campanha por Ainda Estou Aqui, com a comoção por Fernanda Torres no Oscar, e com a avalanche de comentários que fez gringo bloquear post — por medo ou respeito, a gente nunca sabe ao certo. Mas o ponto é: os fandoms brasileiros são mais do que barulho. São ativismo, criatividade, caos organizado e, às vezes, pura revanche histórica. Porque se a cultura global sempre nos ignorou, agora ela nos nota. E nem sempre sabe como lidar. O hype, quando passa por aqui, vira movimento. E quando vira movimento, não tem filtro que segure.
📎 Leia mais: “Os gringos descobrem a avalanche dos fãs brasileiros” – Gama Revista
Já passamos pelo Oscar, mas não dava pra ignorar esse fenômeno corporativo-pop: o coach de LinkedIn que transforma qualquer hype em conteúdo — até A Substância, Anora e Conclave viram analogia de jornada do cliente, plano de sucessão e funil de vendas. É o storytelling como ferramenta de autopromoção — com ponto e vírgula, glossário em inglês e lição de vida embalada pra headhunter.
O texto da piauí é tão bom que parece ficção. Mas não é. Aconteceu. Tá no ar.
E no fim das contas, o Oscar virou só mais um prompt pra gerar conteúdo performático.
📎 O que Demi Moore ensina sobre a jornada do cliente – piauí (PT)
Esther Perel desmontando o hype numa conversa com Amy Webb no SXSW 2025 - O painel começou com aquele tom otimista típico de futurologia: inovação, IA, novos jeitos de se conectar, tudo lindo. Amy Webb, como sempre, trouxe suas previsões afiadas e bem embaladas. Mas aí veio Esther Perel — calma, cirúrgica — e foi desmontando, argumento por argumento, a fantasia de que tecnologia, sozinha, vai consertar as relações humanas. De um lado, o futuro como produto. Do outro, o futuro como espaço relacional. E, no meio, um auditório cheio de gente que veio pra ouvir sobre tech, mas saiu pensando sobre intimidade. Esther Perel fez o que faz de melhor: trouxe humanidade pra uma conversa tomada por hype. E lembrou todo mundo que conexão não é tecnologia — é prática, presença e coragem.
A gente já entendeu que o hype é combustível — ele pode acelerar ideias boas, mas também esconder o que realmente importa. No Episódio 133 do podcast Rádio Escafandro — A inteligência artificial artificial — o convite é justamente esse: ir além do barulho, da estética futurista, das promessas grandiosas. É uma investigação sobre o que a IA está de fato fazendo com a nossa realidade aqui e agora. Enquanto o mundo foca no apocalipse robótico, o episódio puxa o fio dos impactos concretos: precarização, vigilância, desigualdade, desinformação. O que está em jogo não é o fim da humanidade — é o presente que a gente anda naturalizando.
** as siglas correspondem ao idioma da publicação. (PT) é para links em português e (EN) em inglês **
PRA ACOMPANHAR:
O Marmitex tem uma playlist só com as músicas favoritas lançadas de 2024 para cá. E agora, em vez de criar uma nova todo ano, seguimos atualizando a mesma lista. Melhor, né? 🎶🔥
A lista de discos / álbuns favoritos, lançados em 2023, para que você concorde, discorde, descubra, curta ou ignore.
Se você não viu, vou deixar o link fixo com as minhas recomendações favoritas de 2021 e de 2022.
“A gente ama novidades. Mas confunde inovação com espetáculo.”
inspirada em textos da Maria Popova (Brain Pickings)