Marmitex | Edição 157 | Sobre mudar de carreira
Transição depois dos 40 | Literatura X Newsletters | Pensamento Criativo | Eventos de inovação | Foodporn | Still | Sobre desacelerar e mais...
Esta é a 157ª edição do MARMITEX neste formato, 157 desde janeiro de 2020. Aqui compartilho dicas semanais gratuitas de conteúdo: filmes, séries, livros, artigos, fotografia, discos, podcasts, etc. Não tem tema específico, procuro abordar assuntos diversos e relevantes. Direto ao ponto, sem blá-blá-blá.
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A edição de hoje começa um pouco diferente. As dicas da semana estão logo abaixo. Te convido a vir comigo, um abraço!
Mudança de carreira depois dos 40: o malabarismo, o etarismo e a escalada
Comecei a escrever este artigo há 6 meses. Levou um tempinho para colocar as ideias em ordem. O tempo ajuda a clarear a perspectiva. Vamos mergulhar na "Mudança de carreira após os 40", que eu prefiro chamar de "Baile da meia idade com estranhos". Sim, me encontrei em 2022, aos 42 anos, com vontade de deixar algum conforto construído como empreendedor e consultor para retornar à arena corporativa.
Será que aprendi algo transitando por tantas organizações, que justificasse uma nova posição no tabuleiro?
Com mais de uma década de experiência no ecossistema de inovação, o desafio não me assustava, mas o primeiro obstáculo foi o julgamento em relação ao desejo de mudança. É como se algo tivesse que dar muito errado para motivar a busca por outros caminhos. Você quer mudar e a primeira pergunta que ouve é "mas, por quê?" O fato é que já não cabia mais onde estava, muito mais de dentro para fora, do que por influência de fatores externos. Minha resposta era "por que não?"
Os holofotes da expectativa, adornados com a beleza da idealização, sugeriam um caminho tranquilo. Com uma trilha de casos de sucesso, alguns fracassos épicos (elementos inestimáveis para a receita), uma rede de relacionamentos considerável, uma pilha de formações acadêmicas e muitos treinamentos executivos, acreditei que estaria em uma nova cadeira num piscar de olhos. No entanto, a realidade, meus amigos, é uma mestra astuta, com uma reputação notória por esmagar expectativas.
Superconfiança
Embarcar rumo ao desconhecido não é simples. Está mais para a descida de um elevador, parte de uma escalada já percorrida, para então subir novamente de escada, degrau por degrau, tal como escalar o Everest de chinelos.
Você precisa de um plano e de muita paciência, misturando a necessidade de aprender sobre novos negócios e práticas emergentes com uma dose significativa de humildade. A superconfiança, nesta etapa, é tão útil quanto um desentortador de bananas.
Já nas primeiras entrevistas, tateando a melhor forma de me reapresentar ao mercado, momentos de mal-estar e incerteza, onde a extravagância do ego executivo e do jargão corporativo com seus 'Heads', 'Leads', 'Managers' encobria a realidade de um achatamento (salarial) e no pipeline de liderança, decorados com nomenclaturas mais palatáveis. Ainda bem que a maioria dos processos seletivos não dá em nada. Por mais que fira a autoestima, se comprometer com uma escolha equivocada incomodaria bem mais. Não faltam posições "bucha de canhão", disfarçadas de "a chance dos sonhos", para as quais um olhar menos atento pode se deixar enganar pela ansiedade ou por necessidade mesmo. Diria que uma a cada dez conversas fez sentido. Felizmente, entre elas aconteceu uma conexão legítima que abriu os caminhos.
No início das sondagens ao mercado alguém fez com que me sentisse velho pela primeira vez. Não acho que eu seja, mas a headhunter deixou claro que as empresas se interessavam por talentos até os 35 anos. Com 42, meu perfil já não é tão atrativo. Isso se repetiu duas ou três vezes. Felizmente ainda há pessoas abertas a experimentar e ouvir gente com uma biografia menos ortodoxa. Talvez este seja um sinal interessante para orientar sua escolha: o quanto estão abertos a cocriar algo com você? Hoje, ao contrário do etarismo restritivo sentido em outros lugares, o tema virou uma brincadeira leve na convivência diária.
Vulnerabilidade
Um dos aprendizados é não se prender ao job description da posição. É no dia a dia que as coisas vão se formatar e cabe a você influenciar no resultado. No entanto, nem sempre encontramos organizações flexíveis. Se a possibilidade existe, já temos aqui um segundo sinal positivo.
Em alguns momentos, pode ser que você se sinta vulnerável no universo corporativo. Mesmo que pareça andar para trás, não se engane: este é um novo playground, e a busca de uma posição estratégica não é um concurso de popularidade, mas sim uma prova de longo prazo, paciência, resiliência e, acima de tudo, de autodescoberta. Imagine deixar de lado sua especialidade para navegar em três novos campos de conhecimento: corporate venture capital, desenvolvimento sustentável e indústria química, ao mesmo tempo?
Apesar da incerteza, a transição é algo que muitos de nós enfrentaremos e que pode, nem sempre, ser uma opção. (Vide a temporada atual de lay-offs).
Mudar de carreira, abrir mão da trajetória percorrida, sair do protagonismo para servir a um novo objetivo são desafios em que o custo transacional aumenta com a idade. Mas também pode ser uma oportunidade rara de contribuir com a construção de algo que desperte potencialidades escondidas em você.
O fundamental é certificar-se de que está em boa companhia na missão. Não mude por mudar. É importante perceber que aquilo que traz para a mesa é reconhecido por quem está junto e que há espaço para troca. Sozinho, vai ser sempre mais difícil. E aqui temos o terceiro ponto de destaque: quem está contigo.
Humildade
Não sei o segredo de uma transição de carreira bem-sucedida. Sinto que é menos sobre se tornar alguém diferente e mais sobre trazer sua experiência, habilidades e, o mais importante, sua humanidade para o novo papel. A humildade é a chave. Confesso que nunca foi meu forte, mas estou praticando para melhorar. Mesmo que já tenha vivido algumas histórias, ainda há muito para aprender. Afinal, o jogo nunca termina - apenas se transforma.
Não se esqueça do autocuidado, da saúde física e mental. Manter a mente aberta faz toda a diferença, mesmo que suas convicções sejam testadas constantemente.
Deixo aqui mais algumas dicas que podem ser úteis:
Você não é seu trabalho. Essa é só uma parte da sua vida.
Não saia DE algum lugar. Saia PARA algum lugar: Foco no que vem adiante e não no que ficou para trás.
Confie no acaso e na serendipidade, mas ajude a sorte a te ajudar, preparando-se e articulando sua rede.
Reconheça seus pontos fracos e vulnerabilidades. O que faz a diferença é como lida com elas.
A generosidade é uma espiral positiva, destrava caminhos e nos ajuda a operar na abundância. Entre competitividade e generosidade, aposte na segunda.
Respeite os limites do seu corpo, mas lembre-se que aquilo que pesa no começo faz parte da curva de adaptação.
Cuidado para que sua ansiedade não estresse as relações ao redor.
Você vai se surpreender positiva e negativamente com as pessoas. Raramente é uma questão pessoal. Nunca sabemos o que elas estão vivendo para conciliar o acolhimento ao nosso chamado.
Valorize as pequenas vitórias e lembre-se que são tão naturais quanto as derrapadas no caminho.
*Escrevi artigo acima para a Fast Company e você conferir aqui.
NESTA SEMANA
Maneiras de pensar para estimular a criatividade: Twenty-Five Useful Thinking Tools (EN)
Porque ninguém mais aguenta ler sobre liderança (PT)
Michel Alcoforado pegou um pouco pesado no UOL, mas levantou pontos válidos: 'Ganhar dinheiro enquanto dorme': a falácia dos eventos de inovação (PT)
Quem resiste a fotos de comida? Food photographer of the year 2023 – in pictures
Um podcast sobre newsletters e literatura, com Gaía Passarelli
Dica da turma do OCLB:
Meu papo com a Angelica Mari, uma das mais relevantes jornalistas de tecnologia e negócios da América Latina, para o Futuros Possíveis.
O documentário "Still” sobre o Michael J Fox me emocionou bastante:
** as siglas correspondem ao idioma da publicação. (PT) é para links em português e (EN) em inglês
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A leitura para o mês de maio é: "Roube como um Artista, de Austin Kleon“ - Verdadeiro manifesto ilustrado de como ser criativo na era digital, Roube como um artista, do designer e escritor Austin Kleon, ganhou a lista dos mais vendidos do The New York Times e figurou no ranking de 2012 da rede Amazon ao mostrar – com bom humor, ousadia e simplicidade – que não é preciso ser um gênio para ser criativo, basta ser autêntico. Baseado numa palestra feita pelo autor na Universidade do Estado de Nova York que em pouco tempo se viralizou na internet, Roube como um artista coloca os leitores em contato direto com seu lado criativo e artístico e é um verdadeiro manual para o sucesso no século XXI.”
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ótima reflexão. Me inspirou pra pesquisar mais sobre esse tema e até mesmo pra um novo episódio de podcast. Valeu